Meu novo livro

Fábio Benites e eu acabamos de publicar um livro paradidático: Academia de Leonardo – lições sobre Filosofia. É um livro da série Academia de Leonardo, desenvolvida pelo prof. Fábio Benites, que me gentilmente me convidou a contribuir com alguns textos para este volume.

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O livro, publicado pela editora Ciência Moderna, já está à venda na internet e nas melhores livrarias.

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Os movimentos na física aristotélica

Os movimentos característicos dos seres do mundo sublunar são finitos (isto é, têm um princípio e um fim) e retilíneos (de cima para baixou ou de baixo para cima). Todos os corpos que compõem esta região estão compostos de quatro elementos últimos que possuem diferentes naturezas e lugares naturais distintos aos quais tendem para encontrar o repouso: a TERRA é o elemento mais pesado e tende a ocupar seu lugar natural, que é o centro da Terra; a ÁGUA tem como lugar natural as partes mais baixas imediatamente superiores à TERRA; depois, o AR e o FOGO, elementos mais leves que tendem a subir para as regiões mais periféricas do Universo. Assim, os movimentos que observamos nos distintos seres se devem à tendência de cada elemento que o compõe a ocupar o seu LUGAR NATURAL: se lançamos uma pedra, ela cai porque busca recuperar seu lugar próprio, o centro do mundo, restaurando assim a ordem perdida. Note-se que os movimentos naturais são sempre retilíneos para baixo (no caso da terra e da água) ou para cima (no caso do ar e do fogo). Os movimentos não-retilíneos para baixo ou para cima são sempre violentos, ou seja, forçados por algo exterior ao corpo que se move – ou seja, são violações na ordem natural. Por exemplo: uma flecha lançada por um arco voa porque sofre um impulso violento, não natural, na direção do alvo; mas como a flecha é pesada, tende a ir naturalmente para o centro do Universo, isto é, o centro da Terra.

O primeiro movente, segundo Aristóteles

Para Aristóteles, deve haver um primeiro movente que é a causa inicial de todos os movimentos do Universo. Esse primeiro movente deve ser uno e eterno. Para Aristóteles, o Universo deve ter se originado a partir desse primeiro motor, que move tudo mas não é movido por nada prévio – afinal, não pode haver movimento antes do primeiro movimento. Leia o que Aristóteles escreve na Física:

Se tudo o que está em movimento tem que ser movido por algo, e se o que move tem que ser movido por sua vez por outra coisa ou não, e se é movido por outra coisa movida deverá haver um primeiro movente que não seja movido por outra coisa, visto que se este é o primeiro movente não terá necessidade de um movente intermediário que seja também movido (pois é impossível que haja uma série infinita de moventes movidos por outro, já que em uma série infinita não há nada que seja primeiro)…

(…)

É evidente, então, (…) que o primeiro movente é imóvel. Porque, tanto se a série do movido que é movido por outro se detenha imediatamente em algo que é primeiro e imóvel, quanto se conduza a uma coisa que se mova e se detenha a si mesma, em ambos os casos se segue que em todas as coisas movidas o primeiro movente é imóvel.

(…)

Posto que é preciso que haja sempre movimento e que não se o interrompa jamais, deve haver necessariamente algo eterno que mova primeiro, e o que primeiro mova (…) terá que ser imóvel.

(…)

E que o primeiro movente tem que ser uno e eterno resulta evidente pelas seguintes considerações. Mostramos que é necessário que sempre haja movimento. E se sempre há movimento, ele terá que ser também contínuo, porque o que é sempre é contínuo, visto que somente o que está em sucessão não é (necessariamente) contínuo. Mas, se é contínuo, é uno. E é uno por ser uno o movente e uno o movido, já que se o que move fosse sempre distinto, o movimento total não seria contínuo, mas sucessivo.

Por estas razões se pode ter a convicção de que há algo primeiramente imóvel…

(ARISTÓTELES. Física)

As causas do movimento, segundo Aristóteles

Tudo o que está em movimento tem que ser movido por algo. Porque, se não tem em si mesmo o princípio de seu movimento, é evidente que é movido por outra coisa (pois o que o move terá que ser outra coisa).

(…)

E posto que tudo o que está em movimento tem que ser movido por algo, se uma coisa é movida com movimento local por outra que está em movimento, e esta que move é, por sua vez, movida por outra que está em movimento, e esta última por outra, e assim sucessivamente, deverá haver então um primeiro movente, já que não se pode proceder até o infinito. 

(…)

Tudo que é deslocado ou se move por si mesmo ou é movido por outro. No caso do que se move por si mesmo, é evidente que o movido e o movente estão juntos, pois o que move a coisa está nela mesma, de tal maneira que não há intermediário entre o movido e o movente. E quanto ao movimento do que é movido por outro, este pode ser de quatro maneiras, já que há quatro formas de deslocamento de uma coisa por outra: tração, empuxo, transporte e rotação, pois todos os movimentos locais se reduzem a estes. Com efeito, a impulsão é um empuxo em que o movente que atua por si acompanha o que empurra, e a expulsão é aquele empuxo em que o movente não acompanha aquilo que moveu. E quanto ao lançamento, este ocorre quando o movente produz um movimento fora de si com maior ímpeto que o movimento natural, deslocando a coisa até onde seu movimento tenha força.

(…)

Entre as coisas moventes e as coisas movidas, algumas movem e são movidas por acidente, outras de si mesmas; por acidente, quando só pertencem o são parte das coisas que movem ou são movidas; de si, quando uma coisa move ou é movida não apenas por pertencer a tal coisa nem ser uma parte sua.

Pois bem, entre as coisas que têm movimento seu, algumas se movem por si mesmas e outras por outras coisas; e em alguns casos seu movimento é natural, em outros violento e contrário à sua natureza. Nas coisas que se movem por si mesmas seu movimento é natural, como por exemplo em todos os animais, pois o animal se move a si mesmo por si mesmo; e sempre que o princípio do movimento de uma coisa está na coisa mesma dizemos que seu movimento é natural. Portanto, o animal como um todo se move a si mesmo naturalmente, mas o corpo do animal pode estar em movimento ou de modo contrário a sua natureza; isso depende da classe de movimento que tenha ocasião de experimentar ou da classe de elemento de que está composto. E o que é movido por outro é movido naturalmente ou contra a natureza; por exemplo, o movimento para cima de uma coisa terrestre e o movimento para baixo do fogo são contra a natureza; ademais, muitas vezes as partes dos animais estão em movimento de um modo contrário à natureza, em contraste com suas posições e seus modos naturais de movimento.

(…)

Agora bem, a pergunta que se busca responder é esta: por que se movem até seus lugares próprios o leve e o pesado? A razão está em que têm uma tendência natural de ir para um lugar e isto constitui o ser do leve e do pesado, estando um determinado para cima e o outro determinado para baixo.

(…)

Assim, pois, se o movimento de todas as coisas que são movidas é ou natural ou contrário à natureza e violento, e se todas as coisas cujo movimento é violento e contrário à natureza estão movidas por algo e por outra coisa que não elas mesmas, e se por sua vez todas as coisas cujo movimento é natural estão movidas por algo, tanto as que se movem por si mesmas quanto as que não se movem por si, como por exemplo as coisas leves e as coisas pesadas, então todas as coisas que estão em movimento têm que ser movidas por algo.

(ARISTÓTELES. Física)

O Lugar Natural, segundo Aristóteles

Por que algumas coisas (como as pedras) caem, enquanto outras coisas (como o fogo ou a fumaça) sobem? Aristóteles responde: porque todas as coisas buscam seu lugar natural. Leia trechos da Física em que Aristóteles fala dessa concepção.

 

Todo corpo sensível está por natureza em algum lugar, e há um lugar próprio para cada corpo, o mesmo para todo ele e para uma de suas partes; por exemplo, o mesmo para toda a terra e para um pouco de terra, para o fogo e para uma centelha.

(…)

… o lugar [natural] da totalidade da Terra e o do menor pedaço de terra está para baixo, e o lugar do fogo total e de uma centelha está para cima. (…) todo corpo pesado se move por natureza até o Centro [do mundo] e o leve até o alto.

(…)

Os deslocamentos dos corpos naturais simples, como o fogo, a terra e outros semelhantes, não somente nos mostram que o lugar é algo, mas também que exerce um certo poder. Porque cada um desses corpos, se nada o impede, é levado até seu lugar próprio, uns até o alto e outros até o baixo.

(…)

Esta é a razão pela qual o centro do Universo, e o limite extremo do movimento circular do céu com respeito a nós, sejam considerados como o “acima” e o “abaixo” no sentido mais estrito, já que o centro do Universo permanece sempre em repouso (…). Assim, dado que por natureza o leve se desloca até acima e o pesado até abaixo, o limite que contém uma coisa com respeito ao centro do Universo, e o próprio centro, são o “abaixo”, e o limite extremo, e a extremidade mesma, são o “acima”.

(ARISTÓTELES. Física)

A Teoria das Quatro Causas de Aristóteles

…temos que examinar as causas, quais e quantas são. Dado que o objeto desta investigação é o conhecer e não acreditamos conhecer algo se antes não estabelecemos em cada caso o “por quê” (que significa captar a causa primeira), é evidente que teremos que examinar tudo que se  refere à geração e à destruição e a toda mudança natural, a fim de que, conhecendo seus princípios, possamos tentar fazer referência a eles em cada uma de nossas investigações.

Neste sentido se diz que é causa (1) aquele constitutivo interno de que algo é feito, como por exemplo o bronze a respeito da estátua ou a prata a respeito da taça, e os gêneros do bronze ou da prata. [É a causa material.]

Em outro sentido (2) é a forma ou o modelo, isto é, a definição da essência e seus gêneros (…) e as partes da definição. [É a causa formal.]

Em outro sentido (3) é o princípio primeiro de onde vem a mudança ou o repouso, como o que quer algo é causa, como é também o pai é causa de seu filho, e de modo geral o que faz algo é causa do que é feito, e o que faz mudar é causa do que é mudado. [É a causa eficiente.]

E em outro sentido (4) causa é o fim, isto é, aquilo para o qual é algo, por exemplo: o caminhar é a causa da saúde. Pois por que caminhamos? Ao que respondemos: para ficar saudáveis, e ao dizer isso cremos ter indicado a causa. E também qualquer coisa que, sendo movida por outra coisa, chega a ser um meio para obter um fim, como os medicamentos e os instrumentos cirúrgicos são meios para obter a saúde. Todas essas coisas são para um fim, e se diferenciam entre si em que umas são atividades e outras, instrumentos. [É a causa final.]

Tais são, portanto, os sentidos em que diz que algo é causa. Mas, como se diz causa em vários sentidos, ocorre também que uma mesma coisa tem várias causas, e não por acaso. Assim, no caso de uma estátua, tanto a arte do escultor [a causa eficiente] quanto o bronze [a causa material] são causas dela, e causas da estátua enquanto estátua e não causas de outra coisa; pois não são do mesmo modo: um é a causa como matéria, outra aquilo de onde provêm o movimento.

Há também coisas que são reciprocamente causas; assim, o exercício é causa do bom estado do corpo, e este é causa do exercício, ainda que não do mesmo modo: o bem estar do corpo é causa como fim, o exercício é causa como princípio do movimento [causa eficiente].

(ARISTÓTELES. Física)

Simulado Filosofia no ENEM – 30 questões

Veja também a postagem: 80 questões do ENEM com conteúdo de Filosofia

 

 

QUESTÃO 1

A ética precisa ser compreendida como um empreendimento coletivo a ser constantemente retomado e rediscutido, porque é produto da relação interpessoal e social. A ética supõe ainda que cada grupo social se organize sentindo-se responsável por todos e que crie condições para o exercício de um pensar e agir autônomos. A relação entre ética e política é também uma questão de educação e luta pela soberania dos povos. É necessária uma ética renovada, que se construa a partir da natureza dos valores sociais para organizar também uma nova prática política.
(CORDI et al. Para filosofar)

O Século XX teve de repensar a ética para enfrentar novos problemas oriundos de diferentes crises sociais,conflitos ideológicos e contradições da realidade. Sob esse enfoque e a partir do texto, a ética pode ser compreendida como

A instrumento de garantia da cidadania, porque através dela os cidadãos passam a pensar e agir de acordo com valores coletivos.
B mecanismo de criação de direitos humanos, porque é da natureza do homem ser ético e virtuoso.
C meio para resolver os conflitos sociais no cenário da globalização, pois a partir do entendimento do que é efetivamente a ética, a política internacional se realiza.
D parâmetro para assegurar o exercício político primando pelos interesses e ação privada dos cidadãos.
E aceitação de valores universais implícitos numa sociedade que busca dimensionar sua vinculação a outras sociedades.

QUESTÃO 2

Na ética contemporânea, o sujeito não é mais um sujeito substancial, soberano e absolutamente livre, nem um sujeito empírico puramente natural. Ele é simultaneamente os dois, na medida em que é um sujeito histórico-social. Assim, a ética adquire um dimensiona-mento político, uma vez que a ação do sujeito não pode mais ser vista e avaliada fora da relação social coletiva.Desse modo, a ética se entrelaça, necessariamente, com a política, entendida esta como a área de avaliação dos valores que atravessam as relações sociais e que interliga os indivíduos entre si.
(SEVERINO. A. J. Filosofia)

O texto, ao evocar a dimensão histórica do processo deformação da ética na sociedade contemporânea, ressalta

A os conteúdos éticos decorrentes das ideologias político-partidárias.
B o valor da ação humana derivada de preceitos metafísicos.
C a sistematização de valores desassociados da cultura.
D o sentido coletivo e político das ações humanas individuais.
E o julgamento da ação ética pelos políticos eleitos democraticamente

QUESTÃO 3

“A ética exige um governo que defenda a igualdade entre os cidadãos, a qual constitui a base da pátria. Sem ela, muitos indivíduos não se sentem em casa, mas vivem como estrangeiros em seu próprio lugar de nascimento.”
(SILVA, R. R. Ética, defesa nacional, cooperação dos povos)

Os pressupostos éticos são essenciais para a estruturação política e a integração de indivíduos em uma sociedade. Segundo o texto, a ética corresponde a

A valores e costumes partilhados pela maioria da sociedade.
B preceitos normativos impostos pela coação das leis.
C normas próprias determinadas pelo governo de um país.
D transferência dos valores familiares para a esfera social.
E proibição da interferência de estrangeiros na pátria de cada um.

QUESTÃO 4

Dali avistamos homens que andavam pela praia, obra de sete ou oito. Eram pardos, todos nus. Nas mãos traziam arcos com suas setas. Não fazem o menor caso de encobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto. Ambos traziam os beiços de baixo furados e metidos neles seus ossos brancos e verdadeiros. Os cabelos seus são corredios.
(CAMINHA, P. V. Carta. RIBEIRO, D. et al. Viagem pela históriado Brasil: documentos).

O texto é parte da famosa Carta de Pero Vaz de Caminha, documento fundamental para a formação da identidade brasileira. Tratando da relação que, desde esse primeiro contato, se estabeleceu entre portugueses e indígenas, esse trecho da carta revela a

A preocupação em garantir a integridade do colonizador diante da resistência dos índios à ocupação da terra.
B postura etnocêntrica do europeu diante das características físicas e práticas culturais do indígena.
C orientação da política da Coroa Portuguesa quanto à utilização dos nativos como mão de obra para colonizar a nova terra.
D oposição de interesses entre portugueses e índios, que dificultava o trabalho catequético e exigia amplos recursos para a defesa recursos para a defesa da posse da nova terra.
E abundância da terra descoberta, o que possibilitou a sua incorporação aos interesses mercantis portugueses, por meio da exploração econômica dos índios.

QUESTÃO 5

Os cruzados avançavam em silencio, encontrando por todas as partes ossadas humanas, trapos e bandeiras. No meio desse quadro sinistro, não puderam ver, sem estremecer de dor, o acampamento onde Gauthier havia deixado as mulheres e crianças. La, os cristãos tinham sido surpreendidos pelos muçulmanos, mesmo no momento em que os sacerdotes celebravam o sacrifício da Missa. As mulheres, as crianças, os velhos, todos os que a fraqueza ou a doença conservava sob as tendas, perseguidos ate os altares, tinham sido levados para a escravidão ou imolados por um inimigo cruel. A multidão dos cristãos, massacrada naquele lugar, tinha ficado sem sepultura.
(J. F. Michaud. História das cruzadas)

Foi, de fato, na sexta-feira 22 do tempo de Chaaban, do ano de 492 da Hegira, que os franj* se apossaram da Cidade Santa, apos um sitio de 40 dias. Os exilados ainda tremem cada vez que falam nisso, seu olhar se esfria como se eles ainda tivessem diante dos olhos aqueles guerreiros louros, protegidos de armaduras, que espelham pelas ruas o sabre cortante, desembainhado, degolando homens, mulheres e crianças, pilhando as casas, saqueando as mesquitas.

*franj = cruzados.
(Amin Maalouf. As Cruzadas vistas pelos árabes)

Avalie as seguintes afirmações a respeito dos textos acima, que tratam das Cruzadas.

I Os textos referem-se ao mesmo assunto — as Cruzadas, ocorridas no período medieval —, mas apresentam visões distintas sobre a realidade dos conflitos religiosos desse período histórico.
II Ambos os textos narram partes de conflitos ocorridos entre cristãos e muçulmanos durante a Idade Media e revelam como a violência contra mulheres e crianças era pratica comum entre adversários.
III Ambos narram conflitos ocorridos durante as Cruzadas medievais e revelam como as disputas dessa época, apesar de ter havido alguns confrontos militares, foram resolvidas com base na ideia do respeito e da tolerância cultural e religiosa.

E correto apenas o que se afirma em

A I.
B II.
C III.
D I e II.
E II e III.

QUESTÃO 6

No inicio do século XIX, o naturalista alemão Carl Von Martius esteve no Brasil em missão cientifica para fazer observações sobre a flora e a fauna nativas e sobre a sociedade indígena. Referindo-se ao indígena, ele afirmou:

“Permanecendo em grau inferior da humanidade, moralmente, ainda na infância, a civilização não o altera, nenhum exemplo o excita e nada o impulsiona para um nobre desenvolvimento progressivo (…). Esse estranho e inexplicável estado do indígena americano, ate o presente, tem feito fracassarem todas as tentativas para conciliá-lo inteiramente com a Europa vencedora e torná-lo um cidadão satisfeito e feliz.”
(Carl Von Martius. O estado do direito entre os autóctones do Brasil)

Com base nessa descrição, conclui-se que o naturalista Von Martius

A apoiava a independência do Novo Mundo, acreditando que os índios, diferentemente do que fazia a missão européia, respeitavam a flora e a fauna do pais.
B discriminava preconceituosamente as populações originarias da America e advogava o extermínio dos índios.
C defendia uma posição progressista para o século XIX: a de tornar o indígena cidadão satisfeito e feliz.
D procurava impedir o processo de aculturação, ao descrever cientificamente a cultura das populações originarias da America.
E desvalorizava os patrimônios étnicos e culturais das sociedades indígenas e reforçava a missão “civilizadora européia”, típica do século XIX.

QUESTÃO 7

Um cidadão é um indivíduo que pode participar no judiciário e na autoridade, isto é, nos cargos públicos e na administração política e legal.
(ARISTÓTELES. Política)

O termo “cidadania” é polissêmico. Pode-se depreender que, no texto de Aristóteles, a palavra “cidadão” significa “o indivíduo que…”

A contribui para melhorar as condições sociais dos mais desfavorecidos.
B não se omite nas escolhas importantes da comunidade.
C age em prol de um futuro melhor para toda a humanidade.
D pode legalmente influenciar o futuro da comunidade.
E é reconhecido como exemplo para toda a sociedade.

QUESTÃO 8

A constituição dos dias atuais é a que se segue. Os homens que são filhos de pai e mãe cidadãos têm direito à cidadania completa e são inscritos na lista de seus concidadãos nos demos quando completam dezoito anos de idade. Depois de registrados, os membros do demo votam, sob juramento, primeiro: quais deles consideram ter, de fato, atingido a idade legal e os que não a atingiram retornam ao status de criança; segundo: quais os homens que são livres e nascidos como a lei prescreve. Se decidem que um homem não é livre, ele pode apelar para o tribunal, enquanto os concidadãos do demo elegem cinco de seu grupo como acusadores; se for decidido que o julgado não tem direito de ser registrado como cidadão, a cidade o vende como escravo, mas se ele vencer a causa os representantes do demo são obrigados a registrá-lo.

(ARISTÓTELES. A Constituição de Atenas)

O texto de Aristóteles representa a definição do cidadão em Atenas no século IV a.C. Uma diferença entre o conceito antigo e o moderno de cidadania refere-se a:

A a profissão dos indivíduos.
B a ideologia dos indivíduos.
C as posses dos indivíduos.
D o gênero dos indivíduos.
E a raça dos indivíduos.

QUESTÃO 9

Um aspecto importante derivado da natureza histórica da cidadania é que esta se desenvolveu dentro do fenômeno, também histórico, a que se denomina Estado-nação. Nessa perspectiva, a construção da cidadania na modernidade tem a ver com a relação das pessoas com o Estado e com a nação.
(CARVALHO, J. M. Cidadania no Brasil: o longo caminho)

Considerando-se a reflexão acima, um exemplo relacionado a essa perspectiva de construção da cidadania é encontrado

A em D. Pedro I, que concedeu amplos direitos sociais aos trabalhadores, posteriormente ampliados por Getúlio Vargas com a criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
B na independência, que abriu caminho para a democracia e a liberdade, ampliando o direito político de votar aos cidadãos brasileiros, inclusive às mulheres.
C no fato de os direitos civis terem sido prejudicados pela Constituição de 1988, que desprezou os grandes avanços que, nessa área, havia estabelecido a Constituição anterior.
D no Código de Defesa do Consumidor, ao pretender reforçar uma tendência que se anunciava na área dos direitos civis desde a primeira constituição republicana.
E na Constituição de 1988, que, pela primeira vez na história do país, definiu o racismo como crime inafiançável e imprescritível, alargando o alcance dos direitos civis.

QUESTÃO 10

A política implica o envolvimento da comunidade cívica na definição do interesse público. Vale dizer, portanto, que o cenário original da política, no lugar de uma relação vertical e intransponível entre soberanos e súditos na qual a força e a capacidade de impor o medo exercem papel fundamental, sustenta-se em um experimento horizontal. Igualdade política, acesso pleno ao uso da palavra e ausência de medo constituem as suas cláusulas pétreas.
(LESSA, R. Sobre a invenção da política)

A organização da sociedade no espaço é um processo histórico-geográfico, articulado ao desenvolvimento das técnicas, à utilização dos recursos naturais e à produção de objetos industrializamos. Política é, portanto, uma organização dinâmica e complexa, possível apenas pela existência de determinados conjuntos de leis e regras, que regulam a vida em sociedade. Nesse contexto, a participação coletiva é

A necessária para que prevaleça a autonomia social.
B imprescindível para uma sociedade livre de conflitos.
C decisiva para tornar a cidade atraente para os investimentos.
D indispensável para a construção de uma imagem de cidade ideal.
E indissociável dos avanços técnicos que proporcionam aumento na oferta de empregos.

QUESTÃO 11

Segundo Aristóteles, “na cidade com o melhor conjunto de normas e naquela dotada de homens absolutamente justos, os cidadãos não devem viver uma vida de trabalho trivial ou de negócios —  esses tipos de vida são desprezíveis e incompatíveis com as qualidades morais —, tampouco devem ser agricultores os aspirantes à cidadania, pois o lazer é indispensável ao desenvolvimento das qualidades morais e à prática das atividades políticas”.
(VAN ACKER, T. Grécia. A vida cotidiana na cidade-Estado)

O trecho, retirado da obra Política, de Aristóteles, permite compreender que a cidadania

A possui uma dimensão histórica que deve ser criticada, pois é condenável que os políticos de qualquer época fiquem entregues à ociosidade, enquanto o resto dos cidadãos tem de trabalhar.
B era entendida como uma dignidade própria dos grupos sociais superiores, fruto de uma concepção política profundamente hierarquizada da sociedade.
C estava vinculada, na Grécia Antiga, a uma percepção política democrática, que levava todos os habitantes da pólis a participarem da vida cívica.
D tinha profundas conexões com a justiça, razão pela qual o tempo livre dos cidadãos deveria ser dedicado às atividades vinculadas aos tribunais.
E vivida pelos atenienses era, de fato, restrita àqueles que se dedicavam à política e que tinham tempo para resolver os problemas da cidade.

QUESTÃO 12

A definição de eleitor foi tema de artigos nas Constituições brasileiras de 1891 e de 1934. Diz a Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1891:

Art. 70. São eleitores os cidadãos maiores de 21 anos que se alistarem na forma da lei.

A Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1934, por sua vez, estabelece que:

Art. 180. São eleitores os brasileiros de um e de outro sexo, maiores de 18 anos, que se alistarem na forma da lei.
Ao se comparar os dois artigos, no que diz respeito ao gênero dos eleitores, depreende-se que

A a Constituição de 1934 avançou ao reduzir a idade mínima para votar.
B a Constituição de 1891, ao se referir a cidadãos, referia-se também às mulheres.
C os textos de ambas as Cartas permitiam que qualquer cidadão fosse eleitor.
D o texto da carta de 1891 já permitia o voto feminino.
E a Constituição de 1891 considerava eleitores apenas indivíduos do sexo masculino.

QUESTÃO 13

O fenômeno da escravidão, ou seja, da imposição do trabalho compulsório a um indivíduo ou a uma coletividade, por parte de outro indivíduo ou coletividade, é algo muito antigo e, nesses termos, acompanhou a história da Antiguidade até o séc. XIX. Todavia, percebe-se que tanto o status quanto o tratamento dos escravos variou muito da Antiguidade greco-romana até o século XIX em questões ligadas à divisão do trabalho.

As variações mencionadas dizem respeito

A ao caráter étnico da escravidão antiga, pois certas etnias eram escravizadas em virtude de preconceitos sociais.
B à especialização do trabalho escravo na Antiguidade, pois certos ofícios de prestígio eram frequentemente realizados por escravos.
C ao uso dos escravos para a atividade agroexportadora, tanto na Antiguidade quanto no mundo moderno, pois o caráter étnico determinou a diversidade de tratamento.
D à absoluta desqualificação dos escravos para trabalhos mais sofisticados e à violência em seu tratamento, independentemente das questões étnicas.
E ao aspecto étnico presente em todas as formas de escravidão, pois o escravo era, na Antiguidade greco-romana, como no mundo moderno, considerado uma raça inferior.

QUESTÃO 14

O morador de rua Manoel Menezes da Silva, 68, teve garantido pela Justiça seu direito de transitar livremente pelas ruas de São Paulo e permanecer onde desejar.

O idoso, que costumava dormir em uma praça da Vila Nova Conceição, área nobre da capital paulista, e acabou no Hospital Psiquiátrico Pinel em meio à pressão de alguns vizinhos contra seu mau cheiro, pode agora “ir, vir e ficar sem qualquer restrição ou impedimento por quem quer que seja”, conforme decisão da juíza Luciane Jabur Figueiredo, do Dipo (Departamento de Inquéritos Policiais e Polícia Judiciária).

(IZIDORO, Alencar. Estranho no Paraíso. Folha de S. Paulo, 19/07/05)

Segundo a concepção jusnaturalista, a decisão da juíza Luciane Jabour Figueiredo a respeito do morador de rua Manoel Menezes da Silva foi:

A derivada de uma disputa entre classes sociais com o desfecho positivo para a classe oprimida.
B errada, pois os moradores da Vila Nova Conceição têm o direito de manter a segurança de sua propriedade privada.
C errada, pois tanto os moradores da Vila Nova Conceição quanto os moradores de rua têm o direito de definir livremente quem pode permanecer naquela localidade.
D acertada, pois tanto os moradores da Vila Nova Conceição quanto os moradores de rua têm o direito de definir livremente quem pode permanecer naquela localidade.
E acertada, pois o direito de ir e vir é dado pela própria natureza.

QUESTÃO 15

Assim, essa lei da razão torna o cervo propriedade do índio que o abateu; permite-se que os bens pertençam àqueles que lhes dedicou seu trabalho, mesmo que antes fossem direito comum de todos. E entre aqueles que se consideram a parte civilizada da humanidade, que fizeram e multiplicaram leis positivas para determinar a propriedade, essa lei original da natureza que determina o início da propriedade sobre aquilo que era antes comum continua em vigor. E, em virtude dela, qualquer peixe que alguém pesque no oceano, esse grande bem comum ainda remanescente da humanidade, (…) é transformado em propriedade daquele que para tal dedicou seus esforços.

(LOCKE, John. Segundo Tratado sobre o Governo)

Enquanto os homens se contentaram com as suas cabanas rústicas, enquanto se limitaram a coser suas roupas de peles com espinhos ou arestas de pau, a se enfeitarem com plumas e conchas, a pintar o corpo de diversas cores (…); em uma palavra, enquanto se aplicaram exclusivamente a obras que um só podia fazer, e a artes que não necessitavam o concurso de muitas mãos, viveram livres, sãos, bons e felizes ,tanto quanto podiam ser pela sua natureza, e continuaram a gozar entre si das doçuras de uma convivência independente. Mas, desde o instante que um homem teve necessidade do socorro de outro; desde que perceberam que era útil a um só ter provisões para dois, a igualdade desapareceu, a propriedade se introduziu, o trabalho tornou-se necessário e as vastas florestas se transformaram em campos risonhos que foi preciso regar com o suor dos homens, e nos quais, em breve, se viram germinar a escravidão e a miséria, a crescer com as colheitas.

(ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a Desigualdade entre os Homens)

Os trechos acima, de John Locke (1632-1704) e de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), foram retirados de livros muito influentes no Ocidente. A respeito das ideias contidas nos textos, podemos dizer que

A  abordam o mesmo tema, chegando a conclusões similares sobre o conceito de “propriedade”.
B contribuíram para a formulação de duas teorias sociais e políticas opostas: o liberalismo e o socialismo.
C repudiam, por meio de argumentos consistentes, a necessidade da propriedade privada.
D defendem, por meio de argumentos consistentes, a necessidade da propriedade privada.
E apontam para a necessidade de preservar as culturas tradicionais, como a cultura indígena.

QUESTÃO 16

Para uns, a Idade Média foi uma época de trevas, pestes, fome, guerras sanguinárias, superstições, crueldade. Para outros, uma época de bons cavaleiros, damas corteses, fadas, guerras honradas, torneios, grandes ideais. Ou seja, uma Idade Média “má” e uma Idade Média “boa”. Tal disparidade de apreciações com relação a esse período da História se deve

A ao Renascimento, que começou a valorizar a comprovação documental do passado, formando acervos documentais que mostram tanto a realidade “boa” quanto a “má”.
B à tradição iluminista, que usou a Idade Média como contraponto a seus valores racionalistas, e ao Romantismo, que pretendia ressaltar as “boas” origens das nações.
C à indústria de videojogos e cinema, que encontrou uma fonte de inspiração nessa mistura de fantasia e realidade, construindo uma visão falseada do real.
D ao Positivismo, que realçou os aspectos positivos da Idade Média, e ao marxismo, que denunciou o lado negativo do modo de produção feudal.
E à religião, que com sua visão dualista e maniqueísta do mundo alimentou tais interpretações sobre a Idade Média.

QUESTÃO 17

O príncipe, portanto, não deve se incomodar com a reputação de cruel, se seu propósito é manter o povo unido e leal. De fato, com uns poucos exemplos duros poderá ser mais clemente do que outros que, por muita piedade, permitem os distúrbios que levem ao assassínio e ao roubo.
(MAQUIAVEL, N. O Príncipe)

No século XVI, Maquiavel escreveu O Príncipe, reflexão sobre a Monarquia e a função do governante.

A manutenção da ordem social, segundo esse autor, baseava-se na

A inércia do julgamento de crimes polêmicos.
B bondade em relação ao comportamento dos mercenários.
C compaixão quanto à condenação de transgressões religiosas.
D neutralidade diante da condenação dos servos.
E conveniência entre o poder tirânico e a moral do príncipe.

QUESTÃO 18

Não é necessário a um príncipe ter todas as qualidades mencionadas, mas é indispensável que pareça tê-las. Direi, até, que, se as possuir, o uso constante deles resultará em detrimento seu, e que ao contrário, se não as possuir, mas afetar possuí-las, colherá benefícios. Daí a conveniência de parecer clemente, leal, humano, religioso, íntegro e, ainda de ser tudo isso, contanto que, em caso de necessidade, saiba tornar-se o inverso… Por isso, é mister que ele tenha um espírito pronto a se adaptar às variações das circunstâncias e da fortuna e, como disse antes, a manter-se tanto quanto possível no caminho do bem, mas pronto igualmente a enveredar pelo do mal, quando for necessário.

(MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe)

No trecho acima, escrito no século XVI, o autor refere-se à atitude que um príncipe deve tomar em relação à escolha entre o bem e o mal. O texto

A defende a separação entre a moral política e a moral religiosa.
B evidencia que os príncipes devem apenas pensar em aumentar sua riqueza.
C afirma que é necessário que o príncipe sempre seja clemente, leal, humano, religioso e íntegro.
D indica a importância de agir religiosamente, ainda que as circunstâncias tornem esse caminho difícil.
E demonstra a necessidade da educação moral na formação do governante.

QUESTÃO 19

O Marquês de Pombal, ministro do rei Dom José I, considerava os jesuítas como inimigos, também porque, no Brasil, eles catequizavam os índios em aldeamentos autônomos, empregando a assim chamada língua geral. Em 1755, Dom José I aboliu a escravidão do índio no Brasil, o que modificou os aldeamentos e enfraqueceu os jesuítas.

Em 1863, Abraham Lincoln, o presidente dos Estados Unidos, aboliu a escravidão em todas as regiões do Sul daquele país que ainda estavam militarmente rebeladas contra a União em decorrência da Guerra de Secessão. Com esse ato, ele enfraqueceu a causa do Sul, de base agrária, favorável à manutenção da escravidão. A abolição final da escravatura ocorreu em 1865, nos Estados Unidos, e em 1888 no Brasil.

Nos dois casos de abolição de escravatura, observam-se motivações semelhantes, tais como

A razões estratégicas de chefes de Estado interessados em prejudicar adversários, para afirmar sua atuação política.
B fatores culturais comuns aos jesuítas e aos rebeldes do Sul, contrários ao estabelecimento de um governo central.
C cumprimento de promessas humanitárias de liberdade e igualdade feitas pelos citados chefes de Estado.
D eliminação do uso de línguas diferentes do idioma oficial reconhecido pelo Estado.
E resistência à influência da religião católica, comum aos jesuítas e aos rebeldes do sul.

QUESTÃO 20

Ato Institucional no. 5 de 13 de dezembro de 1968

Art. 10 – Fica suspensa a garantia de habeas corpus, nos casos de crimes políticos, contra a segurança nacional, a ordem econômica e social e a economia popular.

Art. 11 – Excluem-se de qualquer apreciação judicial todos os atos praticados de acordo com este Ato Institucional e seus Atos Complementares, bem como os respectivos efeitos.

O Ato Institucional no. 5 é considerado por muitos autores como um “golpe dentro do golpe”. Nos artigos do AI-5 selecionados, o governo militar procurou limitar a atuação do Poder Judiciário, porque isso significava

A a substituição da Constituição de 1967.
B o início do processo de distensão política.
C a garantia legal para o autoritarismo dos juízes.
D a ampliação dos poderes nas mãos do Executivo.
E a revogação dos instrumentos jurídicos implantados durante o golpe de 1964.

QUESTÃO 21

Judiciário contribuiu com ditadura no Chile, diz Juiz Guzmán Tapia

As cortes de apelação rejeitaram mais de 10 mil habeas corpus nos casos das pessoas desaparecidas. Nos tribunais militares, todas as causas foram concluídas com suspensões temporárias ou definitivas, e os desaparecimentos políticos tiveram apenas trâmite formal na Justiça. Assim, o Poder Judiciário contribuiu para que os agentes estatais ficassem impunes.
(Disponível em: http://www.cartamaior.com.br.Acesso em: 20 jul. 2010)

Segundo o texto, durante a ditadura chilena na década de1970, a relação entre os poderes Executivo e Judiciário caracterizava-se pela

A preservação da autonomia institucional entre os poderes.
B valorização da atuação independente de alguns juízes.
C manutenção da interferência jurídica nos atos executivos.
D transferência das funções dos juízes para o chefe de Estado.
E subordinação do poder judiciário aos interesses políticos dominantes

QUESTÃO 22

Em 4 de julho de 1776, as treze colônias que vieram inicialmente a constituir os Estados Unidos da América (EUA) declaravam sua independência e justificavam a ruptura do Pacto Colonial. Em palavras profundamente subversivas para a época, afirmavam a igualdade dos homens e apregoavam como seus direitos inalienáveis: o direito à vida, à liberdade e à busca da felicidade. Afirmavam que o poder dos governantes, aos quais cabia
a defesa daqueles direitos, derivava dos governados.

Esses conceitos revolucionários que ecoavam o Iluminismo foram retomados com maior vigor e amplitude treze anos mais tarde, em 1789, na França.
(Emília Viotti da Costa)

Considerando o texto acima, acerca da independência dos EUA e da Revolução Francesa, assinale a opção correta.

A A independência dos EUA e a Revolução Francesa integravam o mesmo contexto histórico, mas se baseavam em princípios e ideais opostos.
B O processo revolucionário francês identificou-se com o movimento de independência norte-americana no apoio ao absolutismo esclarecido.
C Tanto nos EUA quanto na França, as teses iluministas sustentavam a luta pelo reconhecimento dos direitos considerados essenciais à dignidade humana.
D Por ter sido pioneira, a Revolução Francesa exerceu forte influência no desencadeamento da independência norteamericana.
E Ao romper o Pacto Colonial, a Revolução Francesa abriu o caminho para as independências das colônias ibéricas situadas na América.

QUESTÃO 23

Na década de 30 do século XIX, Tocqueville escreveu as seguintes linhas a respeito da moralidade nos EUA:

“A opinião pública norte-americana é particularmente dura com a falta de moral, pois esta desvia a atenção frente à busca do bem-estar e prejudica a harmonia doméstica, que é tão essencial ao sucesso dos negócios. Nesse sentido, pode-se dizer que ser casto é uma questão de honra”.
(TOCQUEVILLE, A. Democracy in America)

Do trecho, infere-se que, para Tocqueville, os norteamericanos do seu tempo

A buscavam o êxito, descurando as virtudes cívicas.
B tinham na vida moral uma garantia de enriquecimento rápido.
C valorizavam um conceito de honra dissociado do comportamento ético.
D relacionavam a conduta moral dos indivíduos com o progresso econômico.
E acreditavam que o comportamento casto perturbava a harmonia doméstica.

QUESTÃO 24

Na democracia estadounidense, os cidadãos são incluídos na sociedade pelo exercício pleno dos direitos políticos e também pela ideia geral de direito de propriedade. Compete ao governo garantir que esse direito não seja violado. Como consequência, mesmo aqueles que possuem uma pequena propriedade sentem-se cidadãos de pleno direito.

Na tradição política dos EUA, uma forma de incluir socialmente os cidadãos é

A submeter o indivíduo à proteção do governo.
B hierarquizar os indivíduos segundo suas posses.
C estimular a formação de propriedades comunais.
D vincular democracia e possibilidades econômicas individuais.
E defender a obrigação de que todos os indivíduos tenham propriedades.

QUESTÃO 25

Democracia: “regime político no qual a soberania é exercida pelo povo, pertence ao conjunto dos cidadãos.”
(JAPIASSÚ, H.; MARCONDES, D. Dicionário Básico de Filosofia)

Uma suposta “vacina” contra o despotismo, em um contexto democrático, tem por objetivo

A impedir a contratação de familiares para o serviço público.
B reduzir a ação das instituições constitucionais.
C combater a distribuição equilibrada de poder.
D evitar a escolha de governantes autoritários.
E restringir a atuação do Parlamento

QUESTÃO 26

Este é o maior perigo que hoje ameaça a civilização: a estatificação da vida, o intervencionismo do Estado, a absorção de toda espontaneidade social pelo Estado; isto é, a anulação da espontaneidade histórica, que definitivamente sustenta, nutre e empurra os destinos humanos.

(ORTEGA Y GASSET, José. A Rebelião das Massas)

Em A Rebelião das Massas, o filósofo espanhol Ortega y Gasset apresenta uma crítica da cultura social e política do século XX. A partir do trecho selecionado, é possível afirmar que Ortega y Gasset

A defende que a anulação da espontaneidade histórica é a solução para o maior perigo que hoje ameaça a civilização.
B critica a espontaneidade histórica, que pretende injustificadamente sustentar, nutrir e empurrar os destinos humanos.
C propõe que o maior perigo à civilização é o abandono dos esforços de estatificação da vida, do intervencionismo do Estado e da absorção de toda espontaneidade social pelo Estado.
D defende uma concepção socialista de sociedade.
E defende uma concepção liberal de sociedade.

QUESTÃO 27

A primeira metade do século XX foi marcada por conflitos e processos que a inscreveram como um dos mais violentos períodos da história humana.

Entre os principais fatores que estiveram na origem dos conflitos ocorridos durante a primeira metade do século XX estão

A a crise do colonialismo, a ascensão do nacionalismo e do totalitarismo.
B o enfraquecimento do império britânico, a Grande Depressão e a corrida nuclear.
C o declínio britânico, o fracasso da Liga das Nações e a Revolução Cubana.
D a corrida armamentista, o terceiro-mundismo e o expansionismo soviético.
E a Revolução Bolchevique, o imperialismo e a unificação da Alemanha.

QUESTÃO 28

Os regimes totalitários da primeira metade do século XX apoiaram-se fortemente na mobilização da juventude em torno da defesa de ideias grandiosas para o futuro da nação. Nesses projetos, os jovens deveriam entender que só havia uma pessoa digna de ser amada e obedecida, que era o líder. Tais movimentos sociais juvenis contribuíram para a implantação e a sustentação do nazismo, na Alemanha, e do fascismo, na Itália, Espanha e Portugal.

A atuação desses movimentos juvenis caracterizava-se

A pelo sectarismo e pela forma violenta e radical com que enfrentavam os opositores ao regime.
B pelas propostas de conscientização da população acerca dos seus direitos como cidadãos.
C pela promoção de um modo de vida saudável, que mostrava os jovens como exemplos a seguir.
D pelo diálogo, ao organizar debates que opunham jovens idealistas e velhas lideranças conservadoras.
E pelos métodos políticos populistas e pela organização de comícios multitudinários.

QUESTÃO 29

Ocorreu-me (…) de falar de “utopia invertida”, após ter constatado que uma grandiosa utopia igualitária, a comunista, acalentada por séculos, traduziu-se em seu contrário na primeira tentativa histórica de realizá-la. Nenhuma das cidades ideais descritas pelos filósofos foi proposta como modelo a ser colocado em prática. Platão sabia que a república ideal, da qual havia falado com seus amigos e discípulos, não estava destinada a existir em algum lugar, mas apenas era verdadeira, como Glauco diz a Sócrates, “em nossos discursos”. No entanto, na primeira vez em que uma utopia igualitária entrou na história, passando do reino dos “discursos” para o reino das coisas, acabou por se transformar em seu contrário.

(BOBBIO, Norberto. Direita e esquerda)

“Utopia” significa, em grego, “não-lugar”, “lugar inexistente”. Ao discorrer sobre a utopia, Norberto Bobbio enfatiza

A a contradição entre a utopia igualitária e o regime político comunista soviético.
B o regime político soviético como modelo para as utopias igualitaristas da história antiga.
C a oposição entre a utopia igualitária e a República de Platão.
D o socialismo utópico realizado na Antiguidade por Platão.
E a perfeita realização da utopia igualitária na história por meio do regime comunista soviético.

QUESTÃO 30

“Nossa discussão será adequada se tiver tanta clareza quanto comporta o assunto, pois não se deve exigir a precisão em todos os raciocínios por igual, assim como não se deve buscá-la nos produtos de todas as artes mecânicas. Ora, as ações belas e justas, que a ciência política investiga, admitem grande variedade e flutuações de opinião, de forma que se pode considerá-las como existindo por convenção apenas, e não por natureza. E em torno dos bens há uma flutuação semelhante, pelo fato de serem prejudiciais a muitos: houve, por exemplo, quem perecesse devido à sua riqueza, e outros por causa da sua coragem. Ao tratar, pois, de tais assuntos, e partindo de tais premissas, devemos contentar-nos em indicar a verdade aproximadamente e em linhas gerais; e ao falar de coisas que são verdadeiras apenas em sua maior parte e com base em premissas da mesma espécie, só poderemos tirar conclusões da mesma natureza. E é dentro do mesmo espírito que cada proposição deverá ser recebida, pois é próprio do homem culto buscar a precisão, em cada gênero de coisas, apenas na medida em que o admita a natureza do assunto.”
(Aristóteles. Ética a Nicômaco)

No texto acima, o filósofo Aristóteles explica que

A o método da ciência política é dialético, isto é, parte de opiniões comuns aceitas pela maioria ou pelos sábios.
B não há resposta objetiva em questões morais.
C a finalidade da ética e da ciência política é a ação, não a verdade.
D é necessário buscar a verdade absoluta ao resolver problemas morais.
E a teoria política possui um método tão exato quanto o da matemática.

Consciência e multiplicidade das sensações – por Bachelard

A consciência também é função da mobilidade e, por conseguinte, do número de pontos de vista. Porque o conhecimento objetivo se multiplica é que chegamos a nos desapegar da sensação. A construção de Condillac serve como demonstração disso. Para saber como sair da sensação, é preciso haver ao menos uma dualidade na sensação. De tanto passar de uma sensação para outra, percebemos que a evasão é possível; conseguimos sonhar quando podemos seguir o jogo das cores na superfície das coisas. Essa mobilidade leva ao desapego, e nessa via acabamos por encontrar a nós mesmos. Em resumo, para constituir o eu, como para constituir o objeto, é preciso uma pluralidade epistemológica. Mas por que consideramos como definitivamente estranhas as multiplicidades da sensação e as da reflexão? O objeto multiforme e móvel já nos aparece como ocasião suficiente da vida múltipla e movente do pensamento. Quem quer conhecer dispõe-se a agir, a modificar o objeto, a modificar o sujeito. O conhecimento é uma das formas da mudança, é a união do outro no interior do mesmo.

(BACHELARD. Ensaio sobre o conhecimento aproximado, p. 260)

A filosofia de Heráclito de Éfeso

Heráclito (535 – 475 a.C.) era membro de uma família importante politicamente em Éfeso, mas recusou-se a disputar o poder.

É considerado um dos mais eminentes pensadores pré-socráticos. Muitos fragmentos de seu livro, “Sobre a Natureza”, foram reproduzidos pelos doxógrafos. A partir desses fragmentos é possível ter uma noção mais ou menos precisa das idéias de Heráclito – idéias que foram extremamente influentes entre os pensadores que buscavam compreender um princípio universal para além da transitoriedade das coisas particulares.

A característica mais evidente dos escritos de Heráclito é a presença de um grande orgulho e de desprezo. Despreza muitos indivíduos considerados importantes pelos gregos, como Homero, Hesíodo e Pitágoras.

Seu fragmento mais obscuro,

“Deste logos sendo sempre os homens se tornam descompassados quer antes de ouvir quer tão logo tenham ouvido; pois, tornando-se todas as coisas segundo esse logos, a inexperientes se assemelham embora experimentando-se em palavras e ações tais quais eu discorro segundo a natureza distinguindo cada coisa e explicando como se comporta. Aos outros homens escapa quanto fazem despertos, tal como esquecem quanto fazem dormindo”

é representativo desse desprezo. Nele, Heráclito afirma que:

1. o Logos (ou seja, a lei universal que rege todos os acontecimentos particulares e que é o fundamento da harmonia de todas as coisas) sempre existiu;

2. os que estão prestes a “ouvir” ou que tenham ouvido o Logos ficam descompassados, isto é, deslocados entre os outros homens;

3. isto deve-se ao fato de que os que ouvem o Logos e, conseqüentemente, passando a perceber todas as coisas a partir do Logos, parecem inexperientes em relação a tudo, porque tudo precisam reaprender; como diz Heráclito em outro fragmento, “o homem como uma criança ouve o divino, tal como a criança ao homem”;

4. esse aprendizado significa a distinção correta e a explicação do comportamento de cada coisa;

5. os outros homens, que não ouvem o Logos, vivem como se estivessem dormindo, não sendo capazes de perceber a verdadeira realidade – e, segundo Heráclito em outro fragmento, “não se deve agir nem falar como os que dormem”.

Heráclito pensava justamente nos homens que não ouvem o Logos ao dizer que “se a felicidade estivesse nos prazeres do corpo, diríamos felizes os bois, quando encontram ervilha para comer” e que “asnos prefeririam palha a ouro”.

As idéias mais importantes de Heráclito são relativas ao problema geral abordado pelos pré-socráticos, que é o problema cosmológico. Contudo, Heráclito não faz como Tales e Anaxímenes, que buscavam conhecer o arché, o princípio fundamental da physis. Heráclito estava preocupado em tentar compreender o logos, isto é, a razão universal invisível que ordena todas as coisas. Em certo sentido, a posição de Heráclito tem semelhanças com a de um dos milesianos: a de Anaximandro, que considerava que o arché é um infinito, ilimitado e indeterminado que determina todas as coisas particulares na physis. As idéias de Heráclito também não estão muito distantes das da escola pitagórica, que buscava compreender a harmonia quantitativa oculta sob a aparente multiplicidade qualitativa das coisas.

Heráclito formula a doutrina da unidade do ser diante da pluralidade e mutabilidade das coisas particulares e transitórias. Essa idéia é exemplificada pelo fato de que os opostos têm sempre uma propriedade em comum que os unifica, ou seja, pertencem ao mesmo domínio do ser.

Isso significa também que a realidade única é a junção de todas as múltiplas percepções, e que a totalidade é produto de todas as coisas individuais.

Daí deriva-se outra tese importante de Heráclito: a de que todos os seres são dinâmicos, não há seres que permaneçam idênticos a si mesmos. Isso significa que mesmo o logos fundamental, a despeito de ser a condição oculta da harmonia do cosmos, é também eterna mudança.

É neste sentido que Heráclito afirma que não é possível entrar duas vezes no mesmo rio: o rio muda a cada instante, não sendo idêntico a si mesmo, e, portanto, é um rio diferente a cada momento; e nós somos do mesmo modo.

Em suma: a posição de Heráclito é que poucos homens tentam compreender o logos, que é a unidade racional universal que ordena, harmoniza e permite explicar todas as coisas particulares, que são, por sua vez, interminável mudança e confronto de opostos.

Leia também o post: A Escola Eleata.

O Pitagorismo – por Russell

Os pitagóricos pensavam que os números eram constituídos de unidades e que as unidades, representadas por pontos, tinham dimensões espaciais. Segundo esta idéia, um ponto é uma unidade que tem posição, ou seja, que tem dimensões, quaisquer que sejam. Essa teoria do número é bastante adequada para se lidar com números racionais. É sempre possível escolher como unidade um número racional, de tal modo que quaisquer números dos números racionais sejam múltiplos integrais da unidade. Mas a teoria chega a um impasse quando se trata dos números irracionais. Eles não podem ser medidos assim. Vale notar que o termo grego que foi traduzido como “irracional” significava sem medida, em vez de privado de razão, pelo menos para Pitágoras. Para superar esta dificuldade, os pitagóricos inventaram um método de descobrir esses ardilosos números através de uma seqüência de aproximações. Trata-se da construção de frações contínuas. Nessa seqüência, sucessivos passos se aproximam e ultrapassam alternadamente a marca, reduzindo sempre os valores. Mas o processo é essencialmente infinito. O número irracional almejado é o limite do processo. O objetivo do exercício consiste em alcançarmos aproximações racionais tão próximas do limite quanto desejarmos. Na verdade, esse traço é o mesmo que aparece na concepção moderna de limite.

Assim, a partir destas linhas pode-se elaborar uma teoria do número. (…)

Outro legado importante da matemática pitagórica é a teoria das idéias, adotada e desenvolvida posteriormente por Sócrates. Também foi efetivamente criticada pelos eleatas, se é que Platão é um guia confiável. Já demos indícios da origem matemática dessa teoria. Tomemos, por exemplo, o teorema de Pitágoras. Seria inútil desenharmos um diagrama extremamente acurado de um triângulo retângulo e os quadrados sobre seus catetos, e em seguida medir-lhes as áreas. Por mais acurado que fosse o desenho, não seria perfeitamente acurado, e nunca poderia ser. Não são diagramas assim que fornecem a prova do teorema. Para isso necessitamos de um diagrama perfeito, do tipo que se pode imaginar mas não desenhar. Todo desenho real precisa ser uma cópia mais ou menos fiel da imagem mental. Esse é o fardo da teoria das idéias, parte bem conhecida da doutrina dos últimos pitagóricos.

(…) Pitágoras desenvolveu um princípio de harmonia a partir da descoberta das cordas afinadas. Daí se originam as teorias médicas que consideram a saúde como uma espécie de equilíbrio entre contrários. Os últimos pitagóricos avançaram um passo e aplicaram a noção de harmonia à alma. De acordo com este ponto de vista, a alma é uma afinação do corpo, de forma que a alma se torna uma função da condição bem ordenada do corpo. Quando a organização do corpo falha, o corpo se desintegra e o mesmo acontece com a alma. Poderíamos imaginar a alma como a corda estirada de um instrumento musical, e o corpo como a estrutura na qual está presa. Se a estrutura for destruída, a corda afrouxa e perde a afinação. Este ponto de vista está em total desacordo com as primeiras noções pitagóricas sobre o assunto. Parece que Pitágoras acreditava na transmigração das almas enquanto, nesta visão mais recente, as almas morrem, tão seguramente quanto os corpos.

Na astronomia, os últimos pitagóricos desenvolveram uma hipótese muito arrojada segundo a qual o centro do mundo não é a Terra, mas um fogo central. A terra é um planeta que gira em torno desse fogo, invisível para nós porque o nosso lado da Terra aponta sempre para fora desse centro. O sol também era considerado um planeta, que recebe a luz mediante reflexo do fogo central. Foi um grande passo rumo à hipótese heliocêntrica mais tarde desenvolvida por Aristarco.

(RUSSELL, Bertrand. História do Pensamento Ocidental)