Encontro “Questões de Filosofia Contemporânea”

Convido a todos os interessados em Filosofia para o Encontro Questões de Filosofia Contemporânea, que ocorrerá na próxima terça-feira, 01/03/2016, na UERJ.

Palestrantes:

Prof. Dr. Olival Freire (UFBA): Sobre o engajamento da filosofia da ciência com os fundamentos da teoria quântica

Prof. Dr. José Ternes (UFG): Bachelard e a filosofia

Prof. Dr. André Luís de Oliveira Mendonça (IMS/UERJ): Filosofia de problemas e problemas de filosofia: da filosofia ‘aplicada’ à filosofia ‘pura’. E de volta

* * *

LOCAL: Auditório do PPGFIL, 9º andar da UERJ (Campus Maracanã)

DATA E HORÁRIO: 01/03/2016, 10:00h.

A entrada é livre.

Publicidade

Convite – defesa de tese

Convido a todos os interessados para a defesa de minha tese de doutorado, intitulada A dialética da realidade: Gênese e desenvolvimento do surracionalismo de Bachelard.

A banca será composta pelos seguintes professores: Profª Drª Marly Bulcão Lassance Britto (orientadora) – UERJ; Profª Vera Portocarrero – UERJ; Prof. André Luís de Oliveira Mendonça – IMS/UERJ; Prof Dr Olival Freire – UFBA; Profª. José Ternes – UFG.

A defesa ocorrerá na próxima segunda-feira, 29/02/2016, às 15h, no auditório do PPGFIL, no 9º andar da UERJ (Campus Maracanã). A entrada é livre, como em todos os eventos do tipo.

Os movimentos na física aristotélica

Os movimentos característicos dos seres do mundo sublunar são finitos (isto é, têm um princípio e um fim) e retilíneos (de cima para baixou ou de baixo para cima). Todos os corpos que compõem esta região estão compostos de quatro elementos últimos que possuem diferentes naturezas e lugares naturais distintos aos quais tendem para encontrar o repouso: a TERRA é o elemento mais pesado e tende a ocupar seu lugar natural, que é o centro da Terra; a ÁGUA tem como lugar natural as partes mais baixas imediatamente superiores à TERRA; depois, o AR e o FOGO, elementos mais leves que tendem a subir para as regiões mais periféricas do Universo. Assim, os movimentos que observamos nos distintos seres se devem à tendência de cada elemento que o compõe a ocupar o seu LUGAR NATURAL: se lançamos uma pedra, ela cai porque busca recuperar seu lugar próprio, o centro do mundo, restaurando assim a ordem perdida. Note-se que os movimentos naturais são sempre retilíneos para baixo (no caso da terra e da água) ou para cima (no caso do ar e do fogo). Os movimentos não-retilíneos para baixo ou para cima são sempre violentos, ou seja, forçados por algo exterior ao corpo que se move – ou seja, são violações na ordem natural. Por exemplo: uma flecha lançada por um arco voa porque sofre um impulso violento, não natural, na direção do alvo; mas como a flecha é pesada, tende a ir naturalmente para o centro do Universo, isto é, o centro da Terra.

O primeiro movente, segundo Aristóteles

Para Aristóteles, deve haver um primeiro movente que é a causa inicial de todos os movimentos do Universo. Esse primeiro movente deve ser uno e eterno. Para Aristóteles, o Universo deve ter se originado a partir desse primeiro motor, que move tudo mas não é movido por nada prévio – afinal, não pode haver movimento antes do primeiro movimento. Leia o que Aristóteles escreve na Física:

Se tudo o que está em movimento tem que ser movido por algo, e se o que move tem que ser movido por sua vez por outra coisa ou não, e se é movido por outra coisa movida deverá haver um primeiro movente que não seja movido por outra coisa, visto que se este é o primeiro movente não terá necessidade de um movente intermediário que seja também movido (pois é impossível que haja uma série infinita de moventes movidos por outro, já que em uma série infinita não há nada que seja primeiro)…

(…)

É evidente, então, (…) que o primeiro movente é imóvel. Porque, tanto se a série do movido que é movido por outro se detenha imediatamente em algo que é primeiro e imóvel, quanto se conduza a uma coisa que se mova e se detenha a si mesma, em ambos os casos se segue que em todas as coisas movidas o primeiro movente é imóvel.

(…)

Posto que é preciso que haja sempre movimento e que não se o interrompa jamais, deve haver necessariamente algo eterno que mova primeiro, e o que primeiro mova (…) terá que ser imóvel.

(…)

E que o primeiro movente tem que ser uno e eterno resulta evidente pelas seguintes considerações. Mostramos que é necessário que sempre haja movimento. E se sempre há movimento, ele terá que ser também contínuo, porque o que é sempre é contínuo, visto que somente o que está em sucessão não é (necessariamente) contínuo. Mas, se é contínuo, é uno. E é uno por ser uno o movente e uno o movido, já que se o que move fosse sempre distinto, o movimento total não seria contínuo, mas sucessivo.

Por estas razões se pode ter a convicção de que há algo primeiramente imóvel…

(ARISTÓTELES. Física)

As causas do movimento, segundo Aristóteles

Tudo o que está em movimento tem que ser movido por algo. Porque, se não tem em si mesmo o princípio de seu movimento, é evidente que é movido por outra coisa (pois o que o move terá que ser outra coisa).

(…)

E posto que tudo o que está em movimento tem que ser movido por algo, se uma coisa é movida com movimento local por outra que está em movimento, e esta que move é, por sua vez, movida por outra que está em movimento, e esta última por outra, e assim sucessivamente, deverá haver então um primeiro movente, já que não se pode proceder até o infinito. 

(…)

Tudo que é deslocado ou se move por si mesmo ou é movido por outro. No caso do que se move por si mesmo, é evidente que o movido e o movente estão juntos, pois o que move a coisa está nela mesma, de tal maneira que não há intermediário entre o movido e o movente. E quanto ao movimento do que é movido por outro, este pode ser de quatro maneiras, já que há quatro formas de deslocamento de uma coisa por outra: tração, empuxo, transporte e rotação, pois todos os movimentos locais se reduzem a estes. Com efeito, a impulsão é um empuxo em que o movente que atua por si acompanha o que empurra, e a expulsão é aquele empuxo em que o movente não acompanha aquilo que moveu. E quanto ao lançamento, este ocorre quando o movente produz um movimento fora de si com maior ímpeto que o movimento natural, deslocando a coisa até onde seu movimento tenha força.

(…)

Entre as coisas moventes e as coisas movidas, algumas movem e são movidas por acidente, outras de si mesmas; por acidente, quando só pertencem o são parte das coisas que movem ou são movidas; de si, quando uma coisa move ou é movida não apenas por pertencer a tal coisa nem ser uma parte sua.

Pois bem, entre as coisas que têm movimento seu, algumas se movem por si mesmas e outras por outras coisas; e em alguns casos seu movimento é natural, em outros violento e contrário à sua natureza. Nas coisas que se movem por si mesmas seu movimento é natural, como por exemplo em todos os animais, pois o animal se move a si mesmo por si mesmo; e sempre que o princípio do movimento de uma coisa está na coisa mesma dizemos que seu movimento é natural. Portanto, o animal como um todo se move a si mesmo naturalmente, mas o corpo do animal pode estar em movimento ou de modo contrário a sua natureza; isso depende da classe de movimento que tenha ocasião de experimentar ou da classe de elemento de que está composto. E o que é movido por outro é movido naturalmente ou contra a natureza; por exemplo, o movimento para cima de uma coisa terrestre e o movimento para baixo do fogo são contra a natureza; ademais, muitas vezes as partes dos animais estão em movimento de um modo contrário à natureza, em contraste com suas posições e seus modos naturais de movimento.

(…)

Agora bem, a pergunta que se busca responder é esta: por que se movem até seus lugares próprios o leve e o pesado? A razão está em que têm uma tendência natural de ir para um lugar e isto constitui o ser do leve e do pesado, estando um determinado para cima e o outro determinado para baixo.

(…)

Assim, pois, se o movimento de todas as coisas que são movidas é ou natural ou contrário à natureza e violento, e se todas as coisas cujo movimento é violento e contrário à natureza estão movidas por algo e por outra coisa que não elas mesmas, e se por sua vez todas as coisas cujo movimento é natural estão movidas por algo, tanto as que se movem por si mesmas quanto as que não se movem por si, como por exemplo as coisas leves e as coisas pesadas, então todas as coisas que estão em movimento têm que ser movidas por algo.

(ARISTÓTELES. Física)

O Lugar Natural, segundo Aristóteles

Por que algumas coisas (como as pedras) caem, enquanto outras coisas (como o fogo ou a fumaça) sobem? Aristóteles responde: porque todas as coisas buscam seu lugar natural. Leia trechos da Física em que Aristóteles fala dessa concepção.

 

Todo corpo sensível está por natureza em algum lugar, e há um lugar próprio para cada corpo, o mesmo para todo ele e para uma de suas partes; por exemplo, o mesmo para toda a terra e para um pouco de terra, para o fogo e para uma centelha.

(…)

… o lugar [natural] da totalidade da Terra e o do menor pedaço de terra está para baixo, e o lugar do fogo total e de uma centelha está para cima. (…) todo corpo pesado se move por natureza até o Centro [do mundo] e o leve até o alto.

(…)

Os deslocamentos dos corpos naturais simples, como o fogo, a terra e outros semelhantes, não somente nos mostram que o lugar é algo, mas também que exerce um certo poder. Porque cada um desses corpos, se nada o impede, é levado até seu lugar próprio, uns até o alto e outros até o baixo.

(…)

Esta é a razão pela qual o centro do Universo, e o limite extremo do movimento circular do céu com respeito a nós, sejam considerados como o “acima” e o “abaixo” no sentido mais estrito, já que o centro do Universo permanece sempre em repouso (…). Assim, dado que por natureza o leve se desloca até acima e o pesado até abaixo, o limite que contém uma coisa com respeito ao centro do Universo, e o próprio centro, são o “abaixo”, e o limite extremo, e a extremidade mesma, são o “acima”.

(ARISTÓTELES. Física)

A Teoria das Quatro Causas de Aristóteles

…temos que examinar as causas, quais e quantas são. Dado que o objeto desta investigação é o conhecer e não acreditamos conhecer algo se antes não estabelecemos em cada caso o “por quê” (que significa captar a causa primeira), é evidente que teremos que examinar tudo que se  refere à geração e à destruição e a toda mudança natural, a fim de que, conhecendo seus princípios, possamos tentar fazer referência a eles em cada uma de nossas investigações.

Neste sentido se diz que é causa (1) aquele constitutivo interno de que algo é feito, como por exemplo o bronze a respeito da estátua ou a prata a respeito da taça, e os gêneros do bronze ou da prata. [É a causa material.]

Em outro sentido (2) é a forma ou o modelo, isto é, a definição da essência e seus gêneros (…) e as partes da definição. [É a causa formal.]

Em outro sentido (3) é o princípio primeiro de onde vem a mudança ou o repouso, como o que quer algo é causa, como é também o pai é causa de seu filho, e de modo geral o que faz algo é causa do que é feito, e o que faz mudar é causa do que é mudado. [É a causa eficiente.]

E em outro sentido (4) causa é o fim, isto é, aquilo para o qual é algo, por exemplo: o caminhar é a causa da saúde. Pois por que caminhamos? Ao que respondemos: para ficar saudáveis, e ao dizer isso cremos ter indicado a causa. E também qualquer coisa que, sendo movida por outra coisa, chega a ser um meio para obter um fim, como os medicamentos e os instrumentos cirúrgicos são meios para obter a saúde. Todas essas coisas são para um fim, e se diferenciam entre si em que umas são atividades e outras, instrumentos. [É a causa final.]

Tais são, portanto, os sentidos em que diz que algo é causa. Mas, como se diz causa em vários sentidos, ocorre também que uma mesma coisa tem várias causas, e não por acaso. Assim, no caso de uma estátua, tanto a arte do escultor [a causa eficiente] quanto o bronze [a causa material] são causas dela, e causas da estátua enquanto estátua e não causas de outra coisa; pois não são do mesmo modo: um é a causa como matéria, outra aquilo de onde provêm o movimento.

Há também coisas que são reciprocamente causas; assim, o exercício é causa do bom estado do corpo, e este é causa do exercício, ainda que não do mesmo modo: o bem estar do corpo é causa como fim, o exercício é causa como princípio do movimento [causa eficiente].

(ARISTÓTELES. Física)