A vida e a obra de Maquiavel – por Robert Audi

Niccolò Machiavelli (1469-1527), conhecido em português como Nicolau Maquiavel, é geralmente considerado o mais influente pensador político do Renascimento. Nascido em Florença, foi educado na tradição humanista cívica. De 1498 a 1512, foi secretário da chancelaria da república de Florença, com responsabilidades nas relações exteriores e na milícia civil doméstica. Suas tarefas envolveram numerosas missões diplomáticas na Itália e fora dela. Com a queda da república de Florença em 1512, foi demitido pelo regime de Médici que voltava ao poder. De 1513 a 1527, viveu em retiro forçado, aliviado pelo ofício de escritor e por indicações ocasionais a postos menos importantes. (…)

Com Maquiavel emerge uma nova visão da política como uma atividade autônoma levando à criação de Estados livres e poderosos. Essa visão deriva suas normas a partir do que as pessoas realmente fazem, em vez de derivá-las a partir do que as pessoas deveriam fazer. Como resultado, o problema do mal surge como uma questão central: o ator político reserva-se ao direito de “entrar no mal quando for necessário”. O requerimento das filosofias políticas clássica, medieval e humanista cívica de que a política deve ser praticada dentro das fronteiras da virtude é cumprido ao ser redefinido o significado da própria virtude. A virtù maquiaveliana é a habilidade de alcançar a “verdade efetiva” sem ater-se a restrições morais, filosóficas ou teológicas. Maquiavel reconhece dois limites à virtù: (1) fortuna, compreendida como o acaso; e (2) o temperamento do próprio indivíduo.

A história é vista como o produto conjunto da atividade humana e da alegada atividade celeste (compreendida pela astrologia), entendida como a “causa geral” de todos os movimentos no mundo sublunar. Não há lugar aqui para a soberania de Deus, nem para a Providência. Reinos, repúblicas e religiões seguem um padrão naturalista de nascimento, crescimento e declínio. Mas, dependendo do resultado da disputa entre virtù e fortuna, há a possibilidade da renovação política; e Maquiavel via a si mesmo como o filósofo da renovação política.

Historicamente, a filosofia de Maquiavel veio a ser identificada com o maquiavelismo, a doutrina segundo a qual a razão de Estado não reconhece moral superior alguma e que, para o bem do Estado, tudo é permitido – ou seja, a idéia da preponderância da Razão de Estado.

(AUDI, Robert. The Cambridge Dictionary of Philosophy)

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Um comentário sobre “A vida e a obra de Maquiavel – por Robert Audi

  1. A tendência de considerar o trabalho de Maquiavel como o incentivador de um comportamento amoral me parece extremamente equivocada. No livro “O Príncipe”, Maquiavel analisa algumas passagens da história da antiguidade, bem como de eventos contemporâneos a ele, e usa os fatos para traçar padrões comuns de comportamento observados naqueles que utilizaram o poder, tanto os que conseguiram mantê-lo quanto os que não.
    A impressão que tenho é que o trabalho de Maquiavel sempre foi vítima de um preconceito daqueles que se apegam com exagerada vontade a ideais filosóficos ou teológicos e que deixam de lado os fatos que acontecem no mundo real. O filósofo italiano analisou fatos em sua obra, sem fazer juízos de valor a respeito deles.

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