As causas do movimento, segundo Aristóteles

Tudo o que está em movimento tem que ser movido por algo. Porque, se não tem em si mesmo o princípio de seu movimento, é evidente que é movido por outra coisa (pois o que o move terá que ser outra coisa).

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E posto que tudo o que está em movimento tem que ser movido por algo, se uma coisa é movida com movimento local por outra que está em movimento, e esta que move é, por sua vez, movida por outra que está em movimento, e esta última por outra, e assim sucessivamente, deverá haver então um primeiro movente, já que não se pode proceder até o infinito. 

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Tudo que é deslocado ou se move por si mesmo ou é movido por outro. No caso do que se move por si mesmo, é evidente que o movido e o movente estão juntos, pois o que move a coisa está nela mesma, de tal maneira que não há intermediário entre o movido e o movente. E quanto ao movimento do que é movido por outro, este pode ser de quatro maneiras, já que há quatro formas de deslocamento de uma coisa por outra: tração, empuxo, transporte e rotação, pois todos os movimentos locais se reduzem a estes. Com efeito, a impulsão é um empuxo em que o movente que atua por si acompanha o que empurra, e a expulsão é aquele empuxo em que o movente não acompanha aquilo que moveu. E quanto ao lançamento, este ocorre quando o movente produz um movimento fora de si com maior ímpeto que o movimento natural, deslocando a coisa até onde seu movimento tenha força.

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Entre as coisas moventes e as coisas movidas, algumas movem e são movidas por acidente, outras de si mesmas; por acidente, quando só pertencem o são parte das coisas que movem ou são movidas; de si, quando uma coisa move ou é movida não apenas por pertencer a tal coisa nem ser uma parte sua.

Pois bem, entre as coisas que têm movimento seu, algumas se movem por si mesmas e outras por outras coisas; e em alguns casos seu movimento é natural, em outros violento e contrário à sua natureza. Nas coisas que se movem por si mesmas seu movimento é natural, como por exemplo em todos os animais, pois o animal se move a si mesmo por si mesmo; e sempre que o princípio do movimento de uma coisa está na coisa mesma dizemos que seu movimento é natural. Portanto, o animal como um todo se move a si mesmo naturalmente, mas o corpo do animal pode estar em movimento ou de modo contrário a sua natureza; isso depende da classe de movimento que tenha ocasião de experimentar ou da classe de elemento de que está composto. E o que é movido por outro é movido naturalmente ou contra a natureza; por exemplo, o movimento para cima de uma coisa terrestre e o movimento para baixo do fogo são contra a natureza; ademais, muitas vezes as partes dos animais estão em movimento de um modo contrário à natureza, em contraste com suas posições e seus modos naturais de movimento.

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Agora bem, a pergunta que se busca responder é esta: por que se movem até seus lugares próprios o leve e o pesado? A razão está em que têm uma tendência natural de ir para um lugar e isto constitui o ser do leve e do pesado, estando um determinado para cima e o outro determinado para baixo.

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Assim, pois, se o movimento de todas as coisas que são movidas é ou natural ou contrário à natureza e violento, e se todas as coisas cujo movimento é violento e contrário à natureza estão movidas por algo e por outra coisa que não elas mesmas, e se por sua vez todas as coisas cujo movimento é natural estão movidas por algo, tanto as que se movem por si mesmas quanto as que não se movem por si, como por exemplo as coisas leves e as coisas pesadas, então todas as coisas que estão em movimento têm que ser movidas por algo.

(ARISTÓTELES. Física)

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