Recentemente, o governo do Estado do Rio, por meio de sua Secretaria de Educação, saiu-se com uma proposta de Currículo Mínimo de Filosofia.
O tal Currículo Mínimo proposto pode ser conferido aqui: http://www.conexaoprofessor.rj.gov.br/downloads/Filosofia_2010.pdf .
Essa proposta de Currículo Mínimo é simplesmente péssima.
Ela é tão genérica, superficial e ideologicamente orientada (na direção da “filosofia para a construção da cidadania”, como se ser cidadão dependesse ou fosse a meta de se estudar filosofia), que não dá nem para sugerir mudanças: teria que jogar fora e fazer uma do zero.
O que há de específico na Filosofia não é a “problematização”: isso, TODAS as ciências (e não só as ciências) fazem. O que há de específico na filosofia é: 1. seu método argumentativo crítico; 2. seus problemas específicos.
Uma proposta de Currículo Mínimo deveria enfatizar, a cada bimestre de cada série, ao menos um problema genuinamente filosófico e ensinar métodos para lidar com ele a partir da explicação de como esse problema foi resolvido de diferentes maneiras. Ou seja: uma proposta de Currículo Mínimo séria teria que entrar na história dos problemas filosóficos.
Definir quais seriam esses problemas é a menor das dificuldades. Qualquer professor elabora, em quinze minutos, esses problemas centrais da filosofia, um para cada bimestre de cada série.
A maior dificuldade é a vontade de ter que fazer a garotada do Ensino Médio estudar a valer.
Porque é muito cômodo fingir que leciona, batendo papo e passando filme, para uma turma que finge que aprende, e que, acima de tudo não dá valor às aulas que “não têm matéria”, que são “só conversa”.
Reafirmo: essa proposta de Currículo Mínimo, do jeito que está no http://www.conexaoprofessor.rj.gov.br/downloads/Filosofia_2010.pdf, foi feita por educadores que pretendem fingir que ensinam enquanto os alunos fingem que aprendem.
Os professores sérios ignorarão esse Currículo Mínimo e, assim, farão bem.
Meu nome é Carla e sou professora do Estado, fiquei imaginando em que circunstâncias essas pessoas elaboraram esse currículo mínimo de Filosofia, afinal, pelo que podemos ler não me parece algo pensado e feito com algum comprometimento filosófico ou educacional. De qlq maneira, teremos que segui-lo nas escolas do Estado, à contra-gosto, claro. Acabei tentando acrescentar algumas coisas e melhorar a proposta, mas ainda levará um tempo, visto que fui pega, como dizem: “com as calças nas mãos”.
Um abraço.
Pois é, Carla. Quem fez essa proposta é, no mínimo, ignorante ou descompromissado com a filosofia; isso, se não for mau-caráter mesmo, querendo destruir totalmente qualquer resquício de ensino de qualidade na rede pública. Você e os bons professores percebem imediatamente que não dá pra seguir o currículo mínimo e ter honestidade intelectual ao mesmo tempo. E o pior é que os professores realmente foram pegos de surpresa, com uma proposta preparada a portas fechadas, sem discussão verdadeira. “Ah, mas teve o período para propostas da internet”. Grandes coisas… você acha que os burocratas iam realmente jogar a proposta no lixo, como ela merece? Nem eu. Obrigado pela visita, e um abraço!
Já viu a proposta da BNCC para filosofia? Deveriam fazer com ela a mesma coisa que você sugeriu: jogar fora…