Abaixo, a resposta de Tomás de Aquino para a pergunta: “Deus existe?”. Note o estilo utilizado pela escolástica: uma pergunta, o exame das respostas possíveis, a escolha da melhor resposta, ainda que esteja em contradição com algum filósofo da Tradição ou mesmo que esteja em contradição com alguma passagem da Bíblia. Isso mostra que, ao contrário do que constuma se dizer, a chamada Idade Média não foi um período de obscurantismo dogmático. Foi, ao contrário, uma das épocas em que a discussão intelectual foi mais livre, pelo menos no campo teórico. Lembremos que, mesmo durante a Inquisição, o problema não era discutir teoricamente. Isso era amplamente possível. O problema era propor uma teoria contrária à tradição como verdadeira de fato. Ora, muitas vezes a própria Igreja era mais prudente a respeito do que era verdadeiro e do que não era do que os próprios pesquisadores. Por exemplo, Galileu foi orientado pelo Papa a publicar seu trabalho deixando claro que suas hipóteses a respeito do geocentrismo não passavam de hipóteses; ora, era possível que Deus, sendo onipotente, tivesse feito o universo de um modo ou de outro, e não cabia aos homens decidir de uma vez por todas qual teria sido o projeto divino. Galileu somente foi processado pela Inquisição, e declarado culpado, por defender que sua teoria, que ia contra a tradição e as Escrituras, eram verdadeiras de fato (e, lógico, também por ter ridicularizado o Papa, ou pelo menos as afirmações do Papa, em uma de suas obras).
Dentro das Universidades, a discussão teórica era ampla e abarcava todos os assuntos possíveis. Até mesmo um tema como a própria existência de Deus era discutida – e pelo filósofo que, posteriormente, a Igreja considerou como aquele que produziu a filosofia oficial do Catolicismo, Tomás de Aquino.
Abaixo, a resposta de Tomás à pergunta – resposta que inclui as famosas Cinco Vias para a demonstração da existência de Deus.
DEUS EXISTE?
Objeção 1: Parece que Deus não existe; porque se um de dois contrários for infinito, o outro seria, em conjunto, destruído. Mas a palavra “Deus” significa que Ele é o bem infinito. Se, portanto, Deus existisse, não haveria mal possível; mas há mal no mundo. Portanto, Deus não existe.
Objeção 2: Além disso, é supérfluo supor que o que pode ser tomado a partir de poucos princípios tenha sido produzido por muitos. Mas parece que tudo que vemos no mundo pode ser tomado por outros princípios, supondo que Deus não exista. Pois todas as coisas naturais podem ser reduzidas a um princípio que é a natureza; e todas as coisas voluntárias podem ser reduzidas a um princípio que é a razão humana, ou a vontade. Portanto não há motivo para supor a existência de Deus.
Ao contrário: É dito na pessoa de Deus: “Eu sou aquele que é.” (Ex. 3:14)
Na resposta a isso: A existência de Deus pode ser provada em cinco vias.
A primeira e mais manifesta via é o argumento pelo movimento. É certo e evidente aos nossos sentidos que no mundo algumas coisas estão em movimento. Ora, o que quer que esteja em movimento é colocado em movimento por outra coisa, pois nada pode estar em movimento exceto esteja em potencialidade em orientado àquilo pelo que se move. Quem move está em ato. Pois mover não é mais que passar da potência ao ato. A potência não pode passar a ato mais que por quem está em ato. Exemplo: o fogo, em ato quente, faz que a madeira, em potência quente, passe a quente em ato. Deste modo a move e a muda. Mas não é possível que uma coisa seja o mesmo simultaneamente em potência e em ato, somente ser em diferentes respeitos. Pois o que é atualmente quente não pode simultaneamente potencialmente quente; mas é simultaneamente potencialmente frio. É portanto impossível que no mesmo respeito e do mesmo modo uma coisa possa ser simultaneamente movedora e movida, isto é, que possa mover a si mesma. Assim, o que quer que esteja em movimento deve ser posta em movimento por outro. Mas se o que é movido por outro se move, necessita ser movido por outro, e este por outro. Este procedimento não pode ocorrer infinitamente, porque então não haveria um primeiro movedor e, consequentemente, nenhum movido. Portanto é necessário chegar a um primeiro motor, que não é movido por outro; e este todos compreendem ser Deus.
A segunda via é a da natureza da causa eficiente. No mundo dos sentidos nós encontramos uma ordem de causas eficientes. Sem dúvida, não encontramos, nem é possível, que algo seja causa eficiente de si mesmo, pois seria anterior a si mesmo, coisa impossível. Nas causas eficientes não é possível proceder indefinidamente porque em todas as causas eficientes há ordem: a primeira é causa da intermediária; e esta, seja una ou múltipla, é a causa da última. Posto que, se se quita a causa, desaparece o efeito; se na ordem das causa eficientes não existisse a primeira, tampouco haveria a última nem a intermediária. Se nas causas eficientes levássemos infinitamente este procedimento, não existiria a primeira causa eficiente; consequentemente, não haveria efeito último nem causa intermediária; e isto é absolutamente falso. Portanto, é necessário admitir uma causa eficiente primeira. Todos a chamam Deus.
A terceira via é a que se deduz a partir da possibilidade e da necessidade. Notamos que na natureza as coisas podem existir ou não existir, podem ser produzidas ou destruídas, e consequentemente é possível que existam ou que não existam. Mas é impossível a elas existirem sempre, pois o que leva em si mesmo a possibilidade de não existir, em um tempo não existiu. Se, pois, todas as coisas levam em si mesmas a possibilidade de não existir, houve um tempo em que nada existiu. Mas se isto é verdade, tampouco agora existiria algo, posto que o que não existe não começa a existir senão por algo que já existe. Se, pois, nada existisse, é impossível que algo começasse a existir; consequentemente, nada existiria; e isto é absolutamente falso. Logo nem todos os seres são somente possibilidade; é preciso algum ser necessário. Mas todo ser necessário ou tem sua necessidade causada por outro, ou não a tem. Por outro lado, é impossível seguir à infinidade as coisas necessárias que têm sua necessidade causada por outra, como já foi provado a respeito das causas eficientes. Portanto, é preciso postular a existência de algum ser que possua em si mesmo sua própria necessidade, não tendo recebido-a de outro ser, mas causando a necessidade em outros. Todos os homens chamam a este ser Deus.
A quarta via é tomada da gradação encontrada nas coisas. Entre os seres há alguns mais e alguns menos bons, verdadeiros, nobres e assim por diante. Contudo, “mais” e “menos” são predicados de coisas diferentes, de acordo com a semelhança maior ou menor a algo que é o máximo, como se diz de uma coisa ser mais quente quanto mais pareça a coisa maximamente quente. Há algo, portanto, que é maximamente verdadeiro, maximamente bom, maximamente nobre; e, consequentemente, é o máximo ser; pois as coisas que são sumamente verdadeiras são seres máximos, como se diz em II Metaph. Ora, o máximo em qualquer gênero é a causa de todos nesse gênero; como fogo, que é o calor máximo, é a causa de todas as coisas quentes. Portanto deve haver também algo que seja de todos os seres a causa de seu ser, de seu bem e de todas as outras perfeições; e a este chamamos Deus.
A quinta via é tomada do ordenamento do mundo. Pois vemos que há coisas que não têm inteligência, como são os corpos naturais, e que agem para um fim, e isso é evidente por agirem sempre, ou quase sempre, do mesmo modo, para obter o melhor resultado. De onde se deduz que, para alcançar seu objetivo, não agem ao acaso, mas intencionalmente. As coisas que não têm inteligência não podem agir em direção a uma finalidade a não ser que sejam dirigidas por alguém com inteligência e conhecimento, como a flecha é atirada no alvo pelo arqueiro. Portanto algum ser inteligente existe, pelo qual todas as coisas naturais são dirigidas a sua finalidade; e a este ser chamamos Deus.
Resposta à Objeção 1: Como diz Agostinho (Enchididion xi): “Já que Deus é o mais alto bem, Ele não permitiria que nenhum mal existisse em Suas obras, a não ser que Sua onipotência e bondade fossem tais que extraíssem o bem mesmo do mal”. Isso é parte da bondade infinita de Deus, que ele permita que o mal exista, e que do mal produza o bem.
Resposta à Objeção 2: Já que a natureza trabalha para uma determinada finalidade sob a direção de um agente mais alto, o que quer que seja feito pela natureza precisa ser traçado de volta a Deus, como sua primeira causa. Então também o que quer que seja feito voluntariamente deve ser traçado de volta a uma causa mais elevada que não a vontade ou a razão humana, já que estas podem mudar ou errar; pois todas as coisas que são mutáveis e falíveis devem ser traçadas de volta a um primeiro princípio imóvel e autonecessário, como foi demonstrado no corpo deste Artigo.
(TOMÁS DE AQUINO. Summa Theologica. Trad. Gustavo Bertoche.Texto de domínio público
disponível em http://www.ccel.org/ccel/aquinas/summa.html em 21/08/09)
olha!não sei qual é o seu problema mais tenho a certeza que Deus tudo pode fazer basta ,apenas crer e sobre as acusaçoês contra Deus não tem problema já estava escrito na biblia sobre os falsos profetas
mateus 24:11 (guardai-vos dos falsos profetas,que vêm disfarçados de ovelhas ,mas interiormente são lobos devoradores.
Thalita, não entendi seu comentário. Você realmente tentou ler o texto? Se não tentou, tente.
Querido… não quis generalisar a( todos )por favor me entenda ,nesse texto o que eu mais encontro são palavras contra Deus saiba se .não houvesse dor não haveria compaixão
ele diz nesse texto a toda hora sobre a`dùvida que Deus realmente
exista,ele sempre usa os argumentos de que se Deus existisse o mundo não estaria assim saiba que tudo tem um propósito em nossa vida,espero que agora você realmente entenda o que eu quis te te dizer
e ,sobre sua pergunta se eu tentei ler o texto as respostas estão descristas nesse pequeno texto.leia a obejeção 1 e entenda ok!
Thalita, realmente você não entendeu o texto. Vou explicar.
Tomás de Aquino escreveu a Suma Teológica como um conjunto de questões que poderiam ser disputadas por diferentes posições filosóficas e teológicas.
Na questão “Deus existe?”, Tomás começa expondo os argumentos contrários à existência de Deus (as objeções à sua existência). Este movimento é importante, pois deixa claro que não tem uma posição dogmática, mas crítica.
Posteriormente, Tomás, com as respostas às objeções, demonstra que elas estão erradas, e que Deus existe.
O texto não tem nada de ateísmo; o texto é uma defesa racional e filosófica da existência de Deus.
O mal da nova geração de estudantes é não ser capaz de ler mais que duas ou três linhas sem se perder. Para resolver esse problema da incapacidade de interpretar um texto um pouquinho mais complexo só existe um remédio: ler mais, ler muito mais.
Abraço!
Bom dia!
como você está ?
Gustavo por favor,me respoda você é professor de fílosofia?
agora me fala …..
vai dizer pra quem está entrando em depressão uma frase dessa pra ver o, que acontece isso e bem claro .
E isso da minha parte não e falta de leitura quero deixar bem claro,
e não fugindo do assunto quero explicar melhor mesmo que o que eu fale
não mude nada em você e mesmo que o que você fale não mude nada,em mim.
eu tenho um amigo que por causa de uma frase dessas,mudou completamente ficou irreconhecível não acredito,até hoje que ele ficou assim
lembrando que eu não não quero justificar nada, só estou mostrando a realidade que muitos se fecham ou fingem que não existe.
uma frase de um filosófo(não generalizando a todos ) como já expliquei.
E não adianta”‘ finger “,que o bem e o mal não existem você sabe, que sim mas independetemente de sua religiaõ crença ,tribo ou cultura não importa ,o mais importante ,e o respeito,entre duas pessoas totalmente diferentes…
filosófia; e a procura da verdade,poís cada um tem uma verdade
dentro de sí mesmo ,quando se existe razão poís a emoção nada pode falar,mais alto que a razão…
ok!
QUASE TODAS AS RESPOSTAS SOBRE A EXISTENCIA DE DEUS É POSSIVEL SER A VERDADE, MAS, SÃO “QUASE” PORQUE NÃO SABEMOS A” VERDADE” ENQUATO ISSO VIVEMOS SOB O MANTO DA ILUSÃO DE MUITAS VERDADES!
NÃO CREIO EM UM DEUS QUE NÃO SABE SORRIR. CREIO EM UM DEUS COMO UMA INTELIGENCIA MAIOR E FORA DE UM ENTENDIMENTO HUMANO, É A MINHA QUASE VERDADE, MAS HJ AINDA PENSO ASSIM…
Deus em minha vida é assim não posso
ver mas posso sentir,eu creio sim em Deus todo poderoso que
fez o universo e tudo o que nele há!!!!!!!!!!!
Minha nossa, como existem pessoas que criticam sem ler, e os argumentos são os mais ” clichês ” possíveis , realmente é vergonhoso
Belíssimo texto !
Tais linhas de raciocínio levadas por tomás de aquino são ensaios marivilhosos dentro da filosofia. Como ateu, devo dizer que se todos os religiosos fossem capaz de raciocinar como ele, eu ficaria bastante contente em trocar argumentos com o grupo. Infelizmente, o esteriótipo é reforçado a todo momento como fora com os comentários da Thalita. Deus me livre de tal ignorância !
A um fato nas proprias escrituras sagradas q derruba antes msmo da ditadura catolicismo romano, a teoria do geocentrismo