O uso de células-tronco embrionárias: um problema filosófico

A discussão a respeito do uso de células-tronco embrionárias na pesquisa científica coloca em confronto, basicamente, duas perspectivas éticas: a perspectiva objetivista e a perspectiva utilitarista. Vou expor bem basicamente o problema como eu vejo.

A perspectiva moral objetivista é defendida por todos os que dizem que a vida humana tem valor objetivo, ou seja, que seria uma ação moralmente má aquela que causa dano a qualquer vida humana. A perspectiva objetivista é adotada, por exemplo, pela Igreja.

A perspectiva utilitarista é defendida por todos os que dizem que toda ação deve maximizar os benefícios e minimizar os malefícios. Assim, se o uso de células-tronco de embriões pode levar à descoberta da cura de doenças que causam sofrimento em milhões de pessoas, é moralmente lícito fazer as pesquisas. Afinal, o utilitarismo propõe um “cálculo moral” para cada ação: se a ação resultar em maior benefícios e em menores danos para a maior parte da população, é uma ação moralmente boa. A maior parte dos cientistas envolvidos na discussão adota a perspectiva utilitarista.

A posição objetivista é fortalecida com o argumento de que os embriões humanos são vidas humanas inocentes e incapazes de se defender. Mas é enfraquecida pelo argumento de que os embriões humanos não são pessoas, mas apenas potencialmente pessoas. Além disso, o objetivismo moral, quando levado às últimas consequências, pode justificar políticas contrárias à liberdade individual das pessoas, por propor que há um bem moral objetivo e que as pessoas podem vir a enganar-se quanto ao que é melhor para elas.

A posição utilitarista é é fortalecida justamente pelo argumento que diz que os embriões não são estritamente pessoas, e, portanto, não são portadores de direitos por si, mas apenas de direitos concedidos pelas pessoas. Mas o utilitarismo é enfraquecido pelo argumento dos objetivistas de que não apenas as pessoas humanas, mas todos os seres humanos, são portadores de direitos. O utilitarismo moral tem ainda outro ponto fraco, quando levado às consequências extremas: pode justificar políticas que causem dano a uma pessoa ou a um grupo de pessoas inocentes para causar um benefício maior a um grupo mais significativo de pessoas.

Temos aqui duas posições éticas diferentes e irredutíveis. Os princípios que norteiam uma são totalmente diferentes dos princípios que norteiam a outra. Não sei o que faz com que um juiz venha a decidir-se por uma posição ou por outra, mas gostaria que eles pelo menos soubessem localizar-se no mapa ético do problema, e que tivessem consciência das possíveis consequências éticas e políticas que cada uma das posições acarreta.

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10 comentários sobre “O uso de células-tronco embrionárias: um problema filosófico

  1. Gostei muto pq me ajudou num trabalho de filosofia como assunto de celulas tronco


  2. Gostei bastante do “texto” .
    Procurei saber mais , por interesse próprio .
    Tinha algumas duvidas sobre esse assunto ,
    nas foram esclarecidas graças a esse “texto” .

    Parabéns !

  3. Muito bom, precisava me informar sobre o ponto de vista filosófico em relação às células tronco, para um debate amanhã, agora, graças ao texto, prevejo uma boa nota

  4. Por incrível que pareça, este texto vai contribuir para o meu trabalho de física.
    Obrigada a quem escreveu

  5. O testo está maravilhoso ! Muito obrigada pela descrição filosófica a respeito das células tronco .. vai servir muito para mim !

  6. Parabéns pelo excelente conteúdo! O artigo está imparcial e isso e muito bom!

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